Não faça como a Maria da Paz! Aprenda a separar as finanças pessoais das finanças da empresa

Não faça como a Maria da Paz! Aprenda a separar as finanças pessoais das finanças da empresa

O Brasil é um país com enorme potencial para o empreendedorismo. Nos últimos dez anos, o número de pessoas abrindo o próprio negócio cresceu de 14,6 milhões para 49,3 milhões, como revelou a mais recente pesquisa GEM, realizada pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) com o apoio do Sebrae. Por outro lado, segundo o mesmo estudo, de cada quatro empresas abertas, uma fecha antes de completar dois anos.

Por quê? Quais fatores justificam esse cenário?

Diversas razões podem levar a esse desfecho malsucedido. Porém, uma prática cada vez mais comum no ecossistema empresarial e que, em casos extremos, pode levar à falência é misturar as finanças pessoais com as do negócio. Você costuma fazer isso? Se a resposta for sim, veja por que você deveria começar a mudar esse hábito.

Sem divisão de finanças, é impossível enxergar a lucratividade da empresa

Este é o ponto-chave para entender o “x” da questão. Se você mistura suas finanças, jamais conseguirá ter a percepção de que a empresa gera lucro ou se serve apenas para pagar contas, pois fica difícil, nessa situação, apurar o que é o custo do negócio exatamente. Como resultado disso, tomar decisões estratégicas que envolvam cortes de gastos supérfluos – com o objetivo de fazer sobrar dinheiro –, ou realizar novos investimentos que visem ampliar o negócio, por exemplo, tornam-se mais complicados que o normal.

Como isso acontece na prática?

Apenas para exemplificar, vamos supor que você decide comprar um carro novo. Fica acertado que todo mês você destinará uma quantia X do seu orçamento para quitar essa dívida, mas, no meio do caminho, algo acontece e você se enrola com outros gastos. Diante disso, comete o erro quase fatal de misturar sua despesa pessoal com a da empresa. Vai lá e retira o dinheiro que necessita direto do caixa empresarial.

Pronto! Você caiu em uma das armadilhas que expõem a falta de controle com as despesas, além de comprometer a saúde do negócio como um todo.

Só pequenas e médias empresas tendem a misturar finanças?

A resposta é não. Apesar de este mau hábito estar relacionado ao nível de formalização dos processos e as pequenas empresas, menos estruturadas e organizadas, serem mais propensas a este tipo de situação, engana-se quem pensa que empresários de grande porte também não cometam o erro.

Vamos utilizar a ficção como mais um exemplo? Nova novela das 9, da Rede Globo, A Dona Do Pedaço tem conquistado elevados índices de audiência com sua personagem principal, Maria da Paz. Vinda de uma família humilde, desde pequena aprimorou o talento de fazer bolos com sua avó. O tempo passou e Maria construiu um império de confeitarias, tornando seu negócio super lucrativo.

A filha dela, porém, gasta mais do que deve, e Maria se vê obrigada a retirar, diversas vezes, dinheiro do negócio para pagar as despesas pessoais da menina. Frequentemente, a empresária é avisada pelo seu diretor financeiro sobre os perigos desse hábito para a sobrevivência da sua rede de lojas.

A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Arrisco dizer que, neste caso, a arte apenas reflete uma situação mais comum do que imaginamos e que coloca em risco patrimônios conquistados com tanta luta.

Por isso, digo e repito: separar as finanças é fundamental para evitar prejuízos tanto para o negócio quanto para a vida pessoal. A verdade é que, sem isso em mente, os controles e indicadores de rentabilidade da empresa ficam seriamente comprometidos, sem falar na administração do fluxo de caixa, que se torna imprevisível. É como mergulhar em águas turvas. Ou seja, o pior cenário possível para uma empresa que deseja crescer financeiramente.

Vale ressaltar também que qualquer empresa que misture finanças se aproxima da informalidade, o que pode impactar diretamente na credibilidade e passar a impressão de falta de profissionalismo. É isso que você deseja para o seu negócio? Creio que não. Então que tal aplicar as três dicas abaixo para mudar esse hábito o mais rápido possível?

1    – Como empresário, conheça o ponto de equilíbrio, a necessidade de caixa operacional da sua empresa e somente se remunere a partir da real disponibilidade de recursos. Estabeleça um valor de pró-labore (adequado para fins previdenciários) e um valor complementar como distribuição antecipada de lucros;

2    – A distribuição de lucros não pode ser incoerente com o resultado operacional da empresa. Deve haver lucro para que haja distribuição ao(s) sócio(s);

3    – O conhecimento dessa projeção de lucro se dá com base no entendimento correto dos números do negócio, apurados de forma confiável. Sem separar as finanças, essa tarefa torna-se impossível.